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Oct 3, 2023·edited Oct 4, 2023Liked by Gustavo França

Concordo em grande parte, principalmente em relação a redução das mudanças complexas da humanidade a conceitos filosóficos específicos ou declarações de pensadores famosos. Além do exagero da influência sobre essas ideias. Também concordo que grande parte das mudanças históricas tem a ver com novas tecnologias e arranjos produtivos.

Eu diria que ideias soltas não tem grande poder de transformação, mas quando se atrelam a instituições capazes de reproduzi-las, aí de fato aparecem as consequências.

Para que as ideias realmente moldem o mundo, elas precisam ser adotadas, adaptadas e promovidas por instituições ou grupos influentes. É a interação entre ideias e sua manifestação através de instituições que dá forma a grande parte das mudanças na história.

As ideias são abstrações e, em sua forma pura, não têm a capacidade de afetar mudanças tangíveis. No entanto, quando essas ideias encontram ressonância com grupos de indivíduos e instituições, elas se tornam mais do que meros pensamentos – tornam-se movimentos.

Instituições, sejam elas governos, religiões, ONGs, grupos ou "fraternidades", como a Maçonaria, fornecem a estrutura e os recursos necessários para promover, proteger e disseminar ideias. Elas transformam ideias abstratas em agendas concretas e ações tangíveis.

A Maçonaria é um exemplo proeminente. Ela incorporou ideais iluministas sobre razão, liberdade e fraternidade, e ao fazer isso, se tornou uma força influente em muitas revoluções e reformas em diferentes países, promovendo ideais iluministas através de seus membros influentes e ações coordenadas.

A combinação de ideias poderosas com instituições capazes pode criar uma sinergia que amplifica o impacto de ambos. Ideias por si só não têm consequências, mas ideias, quando aliadas a instituições organizadas, têm sim consequências.

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Oct 11, 2023Liked by Gustavo França

Texto primoroso como sempre. Dá gosto de ler.

Gustavo você reparou que a interação confirma a tese do seu texto?

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Tendo a concordar com o "argumento de fundo" do texto (qual seja, conforme o entendi, o de que as ideias filosóficas não surgem ou exercem sua influência sobre a história de modo 'soberano', isolado de outros fatores históricos concretos, e não levar isso consideração, aliado às associações superficiais, pode conduzir a análises gravemente distorcidas), embora acredite que a provocação proposta frequentenente resvale para o mesmo tipo de "crítica fácil" que pretende denunciar.

Será mesmo que as grandes navegações foram mais importantes para o fenômeno da "secularização" do Estado moderno que as ideias políticas de Marsílio de Pádua? Será mesmo que o hobbesianismo seria a única resposta possível (ou mesmo mais provável 'em si mesma', a despeito do 'clima intelectual' em que surgiu e prosperou) às guerras de religião do séc XVI? Será que o "desentendimento geral e sangrento interno a um mesmo tecido cultural", precipitado pela reforma protestante, foi algo, de fato, historicamente inédito? Por outro lado, até que ponto esses contextos históricos concretos (bem como o leque de respostas disponíveis ao tempo e lugar em que ocorreram) não foram "produto" de outros tantos fatores ideais e/ou materiais, cujo efetivo papel nas mudanças sociais é algo muito mais fácil de simplesmente atestar que

de aferir em sua importância relativa, no tocante às demais variáveis causais?

Tenho minhas dúvidas.

De resto se, de fato, um "estudo filosófico sem contaminação ideológica exige que deixemos de forçar relações entre teses especulativas e os problemas políticos do noticiário", trocando-se o verbo "forçar" por "buscar" a frase deixa de ser óbvia - e a delimitação exata das fronteiras entre uma e outra atitude passa a ser um problema (prático? filosófico?) dos mais desafiadores.

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“A Filosofia deve ser contemplada com ócio e atenção rigorosa, não atacada ou defendida por quem levanta alguma bandeira da moda.”

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