Senti, entretanto, falta de um comentário a respeito de Marcuse. Seus textos foram bem além da mera crítica à cultura de massas - Eros e Civilização é quase que a "carta magna" do Maio de 68, certo?
Igor, não pretendi fazer uma análise integral da Escola de Frankfurt, mas apenas demonstrar que o tal "marxismo cultural" não faz sentido na realidade.
Não havia unidade programática entre os professores da Escola de Frankfurt (Benjamin, por exemplo, defendia a cultura de massas como um instrumento revolucionário, na exata antípoda de Horkheimer e Adorno), o que, aliás, é mais uma razão para a incongruência da narrativa do "marxismo cultural".
Marcuse, de fato, era um progressista. Entretanto, tenho muitas dúvidas se ele era influência determinante em maio de 68. Parece-me que os niilistas franceses eram a influência mais próxima.
A Escola de Frankfurt era um departamento. Um núcleo de estudos dentro de uma universidade, onde cada professor estudava e fazia seu trabalho. Não havia nenhum "plano" nem "projeto político". Isso é delírio de conservadores.
Marcuse foi determinante para o surgimento da New Left americana e os protestos de Berkeley. Foi o mais popular e engajado politicamente dos frankfurtianos e este se declarava um marxista. Não se pode negar o elo entre marxismo e New Left americana através de Marcuse.
Obrigado por esse ótimo texto! Embora eu seja leigo, me atrevo a acrescentar que esse "liberalismo cultural" - que vc mencionou - tb não existe como fruto de um projeto mirabolante arquitetado por "mentes malvadas" que visam dominar o mundo (rsrs)", mas é o resultado natural de uma certa tendência humana pra deixar-se seduzir por manifestações mais superficiais e que prometem uma, inexistente, autonomia ilimitada. Falando como Cristão: a queda de nossa cultura é o reflexo esperado da queda do homem pq a virtude demanda esforço, o vício não....
Neste vídeo, o próprio Olavo reconhece a imprecisão do termo Marxismo Cultural, inclusive utilizando de argumentos apresentados pelo professor Gustavo no texto.
Mas e a sociedade Fabiana? Ela se aproxima mais de um movimento anti tradição, anti clerical e niilista do que a "continuidade da revolução marxista" por meio da difusão cultural de algumas de suas bases de pensamento?
O marxismo cultural não aparece como um termo tão desajustado com o progressismo cultural ou a massificação da cultura atual. Parece-me que as primeiras revoluções culturais como o futurismo, dadaismo, cubismo, e reuniões como a semana da arte moderna, e outras europeias já desde o fim do século XIX, como de todo século XX, atendem a uma redução de ideal transcendente pela beleza, reduz ou míngua a influência ocidental do cristianismo, funcionaliza a arte nas suas expressões de arquitetura, música, artes plásticas, etc. Esses dois efeitos são desejados e propostos por gramsci e outros pensadores alinhados ao marxismo, e à práxis desejada da revolução. Depois de tantas décadas disso alcançado, sim a arte virou um produto comercial como qualquer outro do capitalismo, e hoje é raro ou incipiente o resgate do verdadeiro pela produção artística, mas o movimento que a massifica como um produto comercial ordinário só existe hoje pq algo foi destruído em movimentos de contracultura marxista antigos como de Frankfurt, sociedade Fabiana, Movimento faminista, niilismo e existencialismo, e outras filosofias modernas ( e nao tao antigos como woodstock, dentre outros). Destruídos sem nada sendo construído no lugar, tornou-se apenas um produto, nisso concordo. O principal erro filosófico eu creio que seja valorizar o material, os acidentes dos fatos, sua eficácia e negligenciar a sua origem e finalidade. A verdade deixa de ser verdade pois se compreende uma parte como o todo. O homem amputado de sentido de vida, amputado de Deus, como propunha marx e companhia ilimitada, é incapaz da arte
Olá, Fabio. Você mistura uma série de obras e de movimentos, muitos dos quais nada têm a ver com o marxismo. Nem toda postura materialista, ou antimetafísica é marxista. O marxismo é uma corrente teórica específica, com características muito específicas. Pensamentos antimetafísicos existem desde os pré-socráticos. Niilismo, existencialismo, Semana de Arte Moderna, cubismo, dadaísmo, nada disso é marxista.
Que a perda do ideal transcendente de beleza leva à degradação da cultura é óbvio. Que esse processo possa ser atribuído exclusiva ou principalmente ao marxismo é falso. Pode até haver algo semelhante a isso em alguma passagem da obra de Gramsci (mesmo assim, é preciso analisar com calma e rigor o texto), mas, na prática, não foi a influência de Gramsci que causou nada disso.
Por fim, crer que a alteração filosófica na ideia de beleza é a causa de a arte ter se tornado um produto nas mãos do capitalismo e não o contrário me parece uma atribuição de poder excessivo às ideias, tendência academicista um tanto em voga (como se ideias filosóficas fossem capazes de determinar um sistema econômico internacional).
Rogério, você se ateve a uma única frase (a última) do texto e escreveu um imenso sermão que responde apenas às vozes da sua cabeça.
Essa frase é, como está escrito explicitamente, uma ironia. Uma provocação ao discurso vulgar de certos conservadores que atribuem à Escola de Frankfurt uma "paternidade" em relação ao progressismo contemporâneo (o que é uma tremenda ignorância).
É óbvio que o conservadorismo e a Escola de Frankfurt possuem pressupostos filosóficos e objetivos radicalmente incompatíveis.
Isso não exclui que a crítica feita por Adorno e Horkheimer à cultura de massas na "Dialética do esclarecimento" possa perfeitamente ser encampada por conservadores antiliberais. Compare, por exemplo, a crítica ao liberalismo de Patrick Deneen com a referida obra, e você verá que é rigorosamente a mesma a crítica.
Obviamente, ambas partem de cosmovisões e de ideais diferentes e incompatíveis. Porém, nessa crítica à degradação cultural na sociedade liberal coincidem. É só isso.
Gustavo, excelente texto!
Senti, entretanto, falta de um comentário a respeito de Marcuse. Seus textos foram bem além da mera crítica à cultura de massas - Eros e Civilização é quase que a "carta magna" do Maio de 68, certo?
Igor, não pretendi fazer uma análise integral da Escola de Frankfurt, mas apenas demonstrar que o tal "marxismo cultural" não faz sentido na realidade.
Não havia unidade programática entre os professores da Escola de Frankfurt (Benjamin, por exemplo, defendia a cultura de massas como um instrumento revolucionário, na exata antípoda de Horkheimer e Adorno), o que, aliás, é mais uma razão para a incongruência da narrativa do "marxismo cultural".
Marcuse, de fato, era um progressista. Entretanto, tenho muitas dúvidas se ele era influência determinante em maio de 68. Parece-me que os niilistas franceses eram a influência mais próxima.
"Não havia unidade programática entre os professores da Escola de Frankfurt"
Esse é um fato interessante... e nunca dito pelos ideólogos de direita.
Obrigado pela resposta!
A Escola de Frankfurt era um departamento. Um núcleo de estudos dentro de uma universidade, onde cada professor estudava e fazia seu trabalho. Não havia nenhum "plano" nem "projeto político". Isso é delírio de conservadores.
Marcuse foi determinante para o surgimento da New Left americana e os protestos de Berkeley. Foi o mais popular e engajado politicamente dos frankfurtianos e este se declarava um marxista. Não se pode negar o elo entre marxismo e New Left americana através de Marcuse.
Obrigado por esse ótimo texto! Embora eu seja leigo, me atrevo a acrescentar que esse "liberalismo cultural" - que vc mencionou - tb não existe como fruto de um projeto mirabolante arquitetado por "mentes malvadas" que visam dominar o mundo (rsrs)", mas é o resultado natural de uma certa tendência humana pra deixar-se seduzir por manifestações mais superficiais e que prometem uma, inexistente, autonomia ilimitada. Falando como Cristão: a queda de nossa cultura é o reflexo esperado da queda do homem pq a virtude demanda esforço, o vício não....
Com certeza, Lincoln! São ideias: algumas boas, outras más. Não há aplano secreto algum.
https://youtu.be/OC-3KEHCK9E
Neste vídeo, o próprio Olavo reconhece a imprecisão do termo Marxismo Cultural, inclusive utilizando de argumentos apresentados pelo professor Gustavo no texto.
Abraços, professor.
Excelentes textos!
Muito interessante! Faz todo o sentido.
Mas e a sociedade Fabiana? Ela se aproxima mais de um movimento anti tradição, anti clerical e niilista do que a "continuidade da revolução marxista" por meio da difusão cultural de algumas de suas bases de pensamento?
Não conheço o suficiente o tema para comentar.
Olá, muito bem pensado Gustavo.
Não tenho o mesmo ponto de vista.
O marxismo cultural não aparece como um termo tão desajustado com o progressismo cultural ou a massificação da cultura atual. Parece-me que as primeiras revoluções culturais como o futurismo, dadaismo, cubismo, e reuniões como a semana da arte moderna, e outras europeias já desde o fim do século XIX, como de todo século XX, atendem a uma redução de ideal transcendente pela beleza, reduz ou míngua a influência ocidental do cristianismo, funcionaliza a arte nas suas expressões de arquitetura, música, artes plásticas, etc. Esses dois efeitos são desejados e propostos por gramsci e outros pensadores alinhados ao marxismo, e à práxis desejada da revolução. Depois de tantas décadas disso alcançado, sim a arte virou um produto comercial como qualquer outro do capitalismo, e hoje é raro ou incipiente o resgate do verdadeiro pela produção artística, mas o movimento que a massifica como um produto comercial ordinário só existe hoje pq algo foi destruído em movimentos de contracultura marxista antigos como de Frankfurt, sociedade Fabiana, Movimento faminista, niilismo e existencialismo, e outras filosofias modernas ( e nao tao antigos como woodstock, dentre outros). Destruídos sem nada sendo construído no lugar, tornou-se apenas um produto, nisso concordo. O principal erro filosófico eu creio que seja valorizar o material, os acidentes dos fatos, sua eficácia e negligenciar a sua origem e finalidade. A verdade deixa de ser verdade pois se compreende uma parte como o todo. O homem amputado de sentido de vida, amputado de Deus, como propunha marx e companhia ilimitada, é incapaz da arte
Olá, Fabio. Você mistura uma série de obras e de movimentos, muitos dos quais nada têm a ver com o marxismo. Nem toda postura materialista, ou antimetafísica é marxista. O marxismo é uma corrente teórica específica, com características muito específicas. Pensamentos antimetafísicos existem desde os pré-socráticos. Niilismo, existencialismo, Semana de Arte Moderna, cubismo, dadaísmo, nada disso é marxista.
Que a perda do ideal transcendente de beleza leva à degradação da cultura é óbvio. Que esse processo possa ser atribuído exclusiva ou principalmente ao marxismo é falso. Pode até haver algo semelhante a isso em alguma passagem da obra de Gramsci (mesmo assim, é preciso analisar com calma e rigor o texto), mas, na prática, não foi a influência de Gramsci que causou nada disso.
Por fim, crer que a alteração filosófica na ideia de beleza é a causa de a arte ter se tornado um produto nas mãos do capitalismo e não o contrário me parece uma atribuição de poder excessivo às ideias, tendência academicista um tanto em voga (como se ideias filosóficas fossem capazes de determinar um sistema econômico internacional).
Rogério, você se ateve a uma única frase (a última) do texto e escreveu um imenso sermão que responde apenas às vozes da sua cabeça.
Essa frase é, como está escrito explicitamente, uma ironia. Uma provocação ao discurso vulgar de certos conservadores que atribuem à Escola de Frankfurt uma "paternidade" em relação ao progressismo contemporâneo (o que é uma tremenda ignorância).
É óbvio que o conservadorismo e a Escola de Frankfurt possuem pressupostos filosóficos e objetivos radicalmente incompatíveis.
Isso não exclui que a crítica feita por Adorno e Horkheimer à cultura de massas na "Dialética do esclarecimento" possa perfeitamente ser encampada por conservadores antiliberais. Compare, por exemplo, a crítica ao liberalismo de Patrick Deneen com a referida obra, e você verá que é rigorosamente a mesma a crítica.
Obviamente, ambas partem de cosmovisões e de ideais diferentes e incompatíveis. Porém, nessa crítica à degradação cultural na sociedade liberal coincidem. É só isso.
Você está correto. Me desculpe pela interpretação errada.