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Apr 24Liked by Gustavo França

Boa noite, Gustavo!

Antes de mais nada, gostaria de parabenizá-lo pelos ensaios, que há algum tempo me agradam bastante. Assim como você, nutro grande carinho e admiração por Kant, e partilho com o senhor desta leitura teleológica de sua obra: a razão especulativo é incompleta sem a razão prática que por sua vez é incompleta sem a religião, e esta incompletude se reflete nas obras kantianas, se vistas isoladamente.

Contudo, apresento aqui apenas uma divergência com sua divisão da CRP, quando dizes que: "Para Kant, são três as que se apresentam como tais: a Matemática, as Ciências da Natureza e a Metafísica. Cada seção da primeira “Crítica” trata de uma destas: a “Estética transcendental” da Matemática, a “Analítica transcendental” da Física, e a “Dialética transcendental” da Metafísica."

Ao final da Analítica Transcendental, no "Terceiro capítulo: Do fundamento da distinção de todos os objetos em geral em phaenomena e noumena", lemos em B303 que "Seus princípios são meros princípios da exposição dos fenômenos, e o pomposo nome de uma ontologia, que se arroga a fornecer conhecimentos sintéticos a priori das coisas em geral (o princípio da causalidade, por exemplo) em uma doutrina sistemática, tem de dar lugar ao mais modesto nome de uma mera analítica do entendimento puro". Logo, nosso pensador confessa que o que foi feito na Analítica corresponde ao que sempre se pretendeu chamar de ontologia, indo portanto além da mera Física, dado que não apenas o modo como os objetos físicos existem, mas a sua própria existência tem fundamento no entendimento e nos seus princípios puros. Inclusive, é também nos princípios puros do entendimento que temos o fundamento da aplicação da matemática no mundo sensível, especificamente, como você bem sabe, nos axiomas da intuição, e não na Estética Transcendental que trata mais das condições formais da representação e apreensão dos objetos que nos afetam e correspondem a nossas sensações.

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