"Viver a ocasião de passar dias inteiros numa mesma página é o verdadeiro (e árduo) parto da vida intelectual."
Atualmente estou estudando um livro de Relatividade Geral que me faz passar semanas em poucas páginas, indo e vindo várias vezes! É um prazer que se desfruta aos poucos, sem pressa.
Gostaria de propor uma reflexão adicional: qual é - ou pode ser - o papel da formação institucional na "vida intelectual"?
Tenho a impressão de que vivemos tempos de repulsa à formação universitária, por exemplo, e a consequente ascensão das "listas prontas", dos gurus, dos cursos online, etc. Tudo o que você - correta e magistralmente - denuncia no seu post.
Não seria o caso - também - de retomar uma defesa da formação institucional? Há muitas críticas a fazer, há muito a ser reformado e aperfeiçoado, mas talvez seja a hora de voltarmos a defender a universidade (não necessariamente nos moldes BR), a formação institucional, etc.
Bacana! Vai sair uma reflexão minha - com outro tom - a respeito da universidade daqui uns dias. Convergimos em alguns pontos, divergimos em outros - como é normal. Muito obrigado pela indicação do texto!
Cirúrgico. Provoco outra reflexão: o problema está nos que vendem a intelectualidade como produto ou nas pessoas que compram? Talvez a verdade esteja no meio. De um lado, há quem deseje parecer intelectual - e não, de fato, ser. Do outro, o vendedor, que se apresenta como erudito, mas quase nunca é. É o encontro perfeito da conveniência com a oportunidade. Quem tem pressa, compra atalho. E quem sabe vender o atalho, lucra com a pressa. Uns vendem o saber como ideia; outros compram o saber como ilusão - não querem verdadeiramente ler, querem apenas a sensação de ter lido. Você quer ler os clássicos - ou ostentar o rótulo de quem os leu? Essa é a pergunta que fica.
Em toda relação de mercado, há problema em quem vende produto falso e problema em quem compra. Como se diz no Rio de Janeiro, “todo dia saem de casa o malandro e o otário. Quando eles se cruzam, dá negócio”.
De uns tempos para cá eu tenho cogitado o quanto esse pessoal vendedor de curso sobre vida intelectual realmente sabe do que tá falando. Não julgo as intenções deles, pois foi graças a um rapaz deste meio que eu comecei a ler filosofia, literatura, e possuo alguns outros interesses neste ramo -- mas é de se questionar um pouco no tocante à qualidade das afirmações deste pessoal: possuem opinião formada sobre absolutamente tudo, discorrem tudo como profundos conhecedores, e, você pisca o olho, e lá vem eles com um curso novo no valor de um Honda Civic, para te ensinar que, para ter uma vida intelectual profunda, você precisa vender até as cuecas, pagar o curso dele, ler as coisas sobre a ótica dele (o que em si mesmo não é ruim, mas seria infinitesimalmente mais frutífero ler por si mesmo as obras e buscar apoio no YouTube -- e custaria muito menos), enfim, acolhê-lo como mentor.
Tenho medo da vida intelectual virar fetiche da direita burguesa (se já não virou).
Curti muito teu Substack mano, tens mais um inscrito. Sucesso!
Em geral, não sabem nada. Não dominam assunto nenhum. Repetem jargões da moda. Se encarassem um verdadeiro especialista em algum assunto sobre o qual discorrem, não durariam dois minutos. Seja bem-vindo!
Eu mesmo não comprando esses cursos sempre receei em ler Dostoeivski ou Balzac por influências de um desses perfis de intelectial outsider dr internet ou retardei de ler muita coisa por precisar ler infindavéis outras. Através daquela idéia de Formação do imaginário que certos gurus usam pra dizer que se deve ler muita literatura antes de estudar filosofia. Hoje eu retomei meus estudos de estética e da relação do Belo com o moral e Verdade e da politica através do olhar católico.
Excelente!
"Viver a ocasião de passar dias inteiros numa mesma página é o verdadeiro (e árduo) parto da vida intelectual."
Atualmente estou estudando um livro de Relatividade Geral que me faz passar semanas em poucas páginas, indo e vindo várias vezes! É um prazer que se desfruta aos poucos, sem pressa.
Exatamente!
Lembro-me de quando comecei a realmente entender Kant (muitos anos depois de começar a lê-lo). Felicidade que não tem fim.
Perfeito! Como sou músico, adoro passar dias inteiros em uma partitura.
Muito bom!
Excelente texto!
Gostaria de propor uma reflexão adicional: qual é - ou pode ser - o papel da formação institucional na "vida intelectual"?
Tenho a impressão de que vivemos tempos de repulsa à formação universitária, por exemplo, e a consequente ascensão das "listas prontas", dos gurus, dos cursos online, etc. Tudo o que você - correta e magistralmente - denuncia no seu post.
Não seria o caso - também - de retomar uma defesa da formação institucional? Há muitas críticas a fazer, há muito a ser reformado e aperfeiçoado, mas talvez seja a hora de voltarmos a defender a universidade (não necessariamente nos moldes BR), a formação institucional, etc.
Eu mesmo já fiz isso, neste texto:
https://gustavofranca.substack.com/p/a-mentalidade-antiuniversitaria
Bacana! Vai sair uma reflexão minha - com outro tom - a respeito da universidade daqui uns dias. Convergimos em alguns pontos, divergimos em outros - como é normal. Muito obrigado pela indicação do texto!
Irado. Não consigo parar de enxergar mercado em tudo.
Cirúrgico. Provoco outra reflexão: o problema está nos que vendem a intelectualidade como produto ou nas pessoas que compram? Talvez a verdade esteja no meio. De um lado, há quem deseje parecer intelectual - e não, de fato, ser. Do outro, o vendedor, que se apresenta como erudito, mas quase nunca é. É o encontro perfeito da conveniência com a oportunidade. Quem tem pressa, compra atalho. E quem sabe vender o atalho, lucra com a pressa. Uns vendem o saber como ideia; outros compram o saber como ilusão - não querem verdadeiramente ler, querem apenas a sensação de ter lido. Você quer ler os clássicos - ou ostentar o rótulo de quem os leu? Essa é a pergunta que fica.
Em toda relação de mercado, há problema em quem vende produto falso e problema em quem compra. Como se diz no Rio de Janeiro, “todo dia saem de casa o malandro e o otário. Quando eles se cruzam, dá negócio”.
Parabéns! Texto necessário!
De uns tempos para cá eu tenho cogitado o quanto esse pessoal vendedor de curso sobre vida intelectual realmente sabe do que tá falando. Não julgo as intenções deles, pois foi graças a um rapaz deste meio que eu comecei a ler filosofia, literatura, e possuo alguns outros interesses neste ramo -- mas é de se questionar um pouco no tocante à qualidade das afirmações deste pessoal: possuem opinião formada sobre absolutamente tudo, discorrem tudo como profundos conhecedores, e, você pisca o olho, e lá vem eles com um curso novo no valor de um Honda Civic, para te ensinar que, para ter uma vida intelectual profunda, você precisa vender até as cuecas, pagar o curso dele, ler as coisas sobre a ótica dele (o que em si mesmo não é ruim, mas seria infinitesimalmente mais frutífero ler por si mesmo as obras e buscar apoio no YouTube -- e custaria muito menos), enfim, acolhê-lo como mentor.
Tenho medo da vida intelectual virar fetiche da direita burguesa (se já não virou).
Curti muito teu Substack mano, tens mais um inscrito. Sucesso!
Em geral, não sabem nada. Não dominam assunto nenhum. Repetem jargões da moda. Se encarassem um verdadeiro especialista em algum assunto sobre o qual discorrem, não durariam dois minutos. Seja bem-vindo!
Com a vênia da ironia, agora eu que fiquei com vontade de comprar um curso seu, professor!
Infelizmente, não posso produzir cursos online porque tenho algo que meus pais me legaram - vergonha na cara...
Eu mesmo não comprando esses cursos sempre receei em ler Dostoeivski ou Balzac por influências de um desses perfis de intelectial outsider dr internet ou retardei de ler muita coisa por precisar ler infindavéis outras. Através daquela idéia de Formação do imaginário que certos gurus usam pra dizer que se deve ler muita literatura antes de estudar filosofia. Hoje eu retomei meus estudos de estética e da relação do Belo com o moral e Verdade e da politica através do olhar católico.
Sensacional!
Excelente ! As redes sociais com sua superficialidade e imediatismo acabam sendo anti vida intelectual.